PRÊMIO NOBEL DE LETERATURA E DA PAZ

Desde 1901, quando começou a ser concedido, o anúncio dos ganhadores dos prêmios Nobel de Química, de Física e de Medicina e Fisiologia nunca gerou muita polêmica. Vez ou outra há questionamento sobre a não inclusão de precursores da descoberta que justificou o prêmio, mas é raro que a premiação seja considerada injusta. No decorrer da vida quase sempre os maiores expoentes dessas ciências acabam sendo laureados. Há cientistas autores de descobertas muito importantes que acabaram ficando esquecidos pela Academia Real Sueca de Ciências, mas eles são raros. Talvez a mais importante ausência entre os premiados seja a de Dimitri Mendeliev, descobridor da Tabela Periódica dos elementos, um dos mais importantes feitos da história da química, que morreu em 1907. Um outro caso também chamou muita atenção e gerou protestos. Em 1956 Chen Ning Yang e Tsung-Dan Lee sugeriram que a equivalência entre esquerdo e direito, chamada lei da paridade, fosse violada em processos radioativos que envolvessem a emissão de elétrons ou pósitrons. Em poucos meses, Chien-Shing Wu, conhecida entre os físicos como Madame Wu, comprovou a predição em um brilhante experimento. Yang e Lee ganharam o Nobel de Física em 1957, mas Madame Wu ficou de fora. Um gravíssimo “esquecimento” da Academia Sueca foi a criação da técnica do DNA recombinante, pela qual material genético de um organismo é inserido no genoma de outro organismo funcional. Ela foi desenvolvida em 1973 por Stanley N. Cohen e Herbert W. Boyer, apontados por isso como os pais da biotecnologia. Em 1976 Boyer, juntamente com um capitalista de risco, criou a Genentech Inc., a primeira e ainda hoje a maior empresa de biotecnologia do mundo. Não se pode descartar a hipótese de que o uso da descoberta para enriquecimento pessoal de Boyer tenha influenciado a Academia.

O panorama é bem diverso quando olhamos para os laureados com o Nobel de Literatura, e verdadeiramente escandaloso no caso nos ganhadores do Nobel da Paz. Comecemos pelo primeiro, concedido pela Academia Sueca de Letras. Por fatores diversos, muitos expoentes da literatura do foram ignorados e muitas vezes o prêmio foi dado a alguém que muitos literatos só vieram a conhecer após a premiação. Causa espécie o fato de que Leon Tolstoi, Marcel Proust, James Joyce, Émile Zola, Mark Twain, Anton Tchekov, Virginia Woolf, Grahan Greene, Paul Valéry, Vladimir Nabokov, Vladimir Maiakovski, Ezra Pound, T. S. Eliot, Fernando Pessoa, Francis Scott Fitzgerald, Milan Kundera, Jorge Luis Borges, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa e Umberto Eco tenham ficado fora da lista. Muitos deles foram excluídos por razões políticas. O mais comentado destes é Jorge Borges, que ano após ano era indicado e preterido, segundo boatos por apoiar governos militares na América Latina. Primeiro, Borges deveria ter sido premiado bem antes do surgimento desses governos, pois em 1960 já poderia talvez ser apontado como o maior escritor das américas de todos os tempos. Segundo, dois dos premiados, Pablo Neruda e Jean-Paul Sartre apoiavam abertamente o governo de Stalin.

Dentre os premiados, há os já comentados casos escritores pouco conhecidos pelos críticos e pelo público culto. E também casos, como o de Winston Churchill, cuja obra deve ter sido mantido secreta. É impossível não comentar sobre um gosto especial da Academia Sueca de Letras pela literatura escandinava. Com efeito, sete suecos, três dinamarqueses e dois noruegueses foram premiados. Dois dos suecos premiados eram membros da própria Academia. Ora ora! Os escandinavos se distinguem em muitos campos, mas não na criação literária, mas para a Academia nesse campo eles superam toda a Ásia.

Alaor Chaves Written by:

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